18 de junho de 2020
Coronavírus: um forte argumento para parar de fumar
Entre tantas transformações impostas pela pandemia do novo coronavírus, uma delas indica aos fumantes que está na hora de, definitivamente, abandonar o cigarro e, assim, levar cada vez mais a sério o tratamento do tabagismo. O fumo é apontado pelos especialistas como um potencial fator de risco para o agravamento da infecção por coronavírus, uma vez que piora infecções respiratórias. Entidades médicas observam que a Covid-19 tem evolução mais grave e maior letalidade entre fumantes.
Esse contexto é uma oportunidade de reforçar a recomendação sobre a necessidade de tratar o tabagismo. Nas empresas, o RH e a Comunicação Interna precisam colocar o assunto na pauta de suas campanhas de conscientização dos colaboradores, destacando que, com o novo coronavírus, os fumantes correm ainda mais riscos.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) alerta que o tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. É por essa razão que os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Quem fuma pode adoecer com maior frequência por sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. O consumo do tabaco é ainda a principal causa de câncer de pulmão e fator de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Pesquisas inconclusas podem confundir
A Covid-19 é uma novidade que ainda requer muita investigação científica. Fato é que pesquisas estão sendo realizadas no mundo com diversos objetivos, entre eles o mapeamento da penetração do coronavírus nos distintos perfis da população. Até aí tudo certo. No entanto, a divulgação de resultados preliminares, ou seja, sem que a pesquisa tenha sido concluída, pode causar confusão entre as pessoas e induzi-las a equívocos.
Uma dessas pesquisas está em desenvolvimento na França e observou, em uma amostra de pacientes, que há um percentual pequeno de fumantes, cerca de 8,5%, entre os doentes. Com esse dado, os pesquisadores sugerem, ainda que sem confirmação, que a nicotina, uma das substâncias que compõem o cigarro, tem efeito contra o coronavírus.
O estudo tem diversas falhas e não considera, por exemplo, se o número menor de fumantes entre os infectados não se daria porque essas pessoas, sabendo que pertencem ao grupo de risco, estão tomando mais medidas preventivas e, consequentemente, mais protegidas contra o vírus.
Por essa razão, é preciso consumir essas informações com cautela, sempre buscando outras fontes para confirmar os dados e obter outros pontos de vista. No caso específico deste estudo francês, especialistas de outras partes do mundo, inclusive do Brasil, já se manifestaram afirmando que a pesquisa tem limitações e que não é verdade que o cigarro está relacionado ao menor risco de infecção por coronavírus.
Especialistas condenam uso da nicotina
O fato de a pesquisa francesa ter sido divulgada ainda inconclusa também foi bastante criticado. Aqui no Brasil, diversas entidades médicas, entre elas a Associação Médica Brasileira, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, a Fundação do Câncer e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia divulgaram uma nota conjunta em que criticam o artigo que apresentou o estudo francês. E alertam para os riscos da nicotina que, além de provocar dependência, está relacionada a doenças cardiovasculares.
“Uma vez contaminados pelo novo coronavírus, os fumantes tendem a ter uma pior evolução do quadro, com mais gravidade e mortes. No Brasil, ainda se discute inserir a informação sobre tabagismo na ficha de identificação sobre Covid-19, o que seria de grande importância para avaliar a evolução do quadro da doença em fumantes, em comparação aos que não fumam”, afirma a nota.
E continua: “O estudo sobre a nicotina em questão também não foi revisado por pares e não faz referência a aprovação por nenhum comitê de ética em pesquisa. Além disso, deve-se destacar que ao menos um dos autores já foi financiado no passado pela indústria do tabaco. A nicotina é uma droga psicoativa causadora de dependência e de graves danos ao sistema cardiovascular, como infartos e tromboses. O fumante também tem mais chances de desenvolver doenças pulmonares e vasculares, sistemas muito afetados nos infectados pela Covid-19. Dessa forma, a hipótese de uso de nicotina na prevenção ou tratamento da Covid-19 pode trazer o risco de causar mais danos ao doente, sem contar com a instalação de uma nova doença – o tabagismo”, escreveram os especialistas.
Atenção aos grupos de risco
Fumantes: o sistema respiratório do fumante é prejudicado pelo cigarro. Portanto, se contaminado pelo coronavírus e, com possível comprometimento da capacidade pulmonar em razão do fumo, há mais chances de desenvolver sintomas graves da doença. A recomendação é parar de fumar.
Pessoas com doenças crônicas: hipertensão; diabetes; insuficiências cardíaca, renal e pulmonar; asma; doenças que comprometam o funcionamento do sistema imunológico, sobretudo se não estiverem sob controle e em pessoas idosas. Nesses casos, o isolamento social e o acompanhamento para controle das doenças são fundamentais para a prevenção da Covid-19.
Fontes: Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer (INCA).